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partículas

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* vista da exposição
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Bolor
vídeo instalação
90x150cm
vídeo generativo, monitor de desktop aberto,
raspberry PI e pintura metálica s/ parede mofada
2019
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Estudo para Pombos
escultura de parede
dimensões variáveis
liga de chumbo e estanho
2019
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Água das coisas
escultura de parede
dimensões variáveis
Fita adesiva cristal e embalagem plástica de iphone 11
2019
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Sedimento de Imagem
pintura
60x30cm
Barra de alumínio e spray prateado s/ papel arroz
2019
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Metade Água, Metade Silêncio
escultura
50x50cm
saco plástico cristal, água, carpete e laser.
2019
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derretido :: objeto contemplante
escultura de parede
30x20com
máscara de buda em látex e prego
2019
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Dandara Hanh e Simon Fernandes
massapê projetos, São Paulo SP.
Novembro de 2019.
Texto: Guilherme Teixeira.
fotos: ana pigosso.

Muito pode ser dito dos estados de manipulação dos objetos de arte através da história, mais especificamente da historicidade do século XX, porém a perspectiva sobre a usologia dos objetos com finalidade somente estética em sua maioria se destaca das possibilidades de deslocamento afetivo que o procedimento artístico possibilita.

Um dia, em uma conversa com Simon Fernandes, ele começou a me falar sobre a paixão do inventor Nikola Tesla pelos pombos que visitavam a sua varanda na cobertura de um hotel em Nova Iorque em meados do século XX. Ele me falou, mais especificamente, sobre a verdadeira paixão que Tesla desenvolveu por uma pomba em especial. É dito que, na ocasião da morte da pequena pomba, o desamparo de Tesla deflagrou sua própria morte horas depois. O ponto aqui não é debater a veracidade ou os fatos dessa estória - trago-a a tona para falar sobre uma relação íntimo que desenvolvemos com aquilo, orgânico ou artificial, onde projetamos nossas consciências. Neste movimento entre materialidade usual e afetividade corrente, para conceber um espaço onde os objetos derivam tanto da manipulação mínima de uma peça doméstica, como um cobertor, quanto de uma industrialização latente, como em plásticos, moldes e recipientes, postulo duas perguntas: em que momento o interesse nos objetos e discursos que se destacam do cotidiano se entrelaçam na construção de uma narrativa espacial? Como conceber um espaço expositivo a partir de deslocamentos aparentemente distantes, não posicionando-os em tensões, ou mesmo em uma relação paradoxal, mas sim enquanto contradições harmônicas que possibilitem uma nova leitura da materialidade inexata que habita o que está ali?

Embora não tivessem sido especificamente verbalizadas a Dandara ou Simon, sinto que de certo modo essas perguntas inconscientemente orientaram a escolha do eixo que guiaria esta exposição, tanto expográfica quanto conceitualmente. Partindo da ideia de partículas, mais especificamente de seus movimentos, buscou-se construir um espaço onde um eixo afetivo, quase como que em um movimento centrífugo, levaria a cabo o jogo ímpar entre tecido, lasers, luz, plástico, chumbo, água e som que constroem a dança entre os discursos dos artistas: neste jogo, não apenas a semântica dos materiais ditam as regras, mas também a própria relação entre as superfícies, seus interiores e transparências, assim como o modo como ele tece o percurso do espectador.

Diversos são as relações que se constroem, porém a tônica que urge de todas elas é singular: dentro dos estados de materialidade usual ou afetividades correntes que se entremeiam aqui, a única certeza que podemos ter deste espaço (se podemos ter alguma), é sobre a cada vez mais necessária projeção do gesto em relação a tudo que nos circunda; para tanto, não nos esqueçamos da urgente necessidade de ressignificar o comum, ou do amor de Tesla por seus pombos.

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A lot can be said about the states of manipulation of art objects through history, more specifically about the historicity of the twentieth century, but the perspective on the utilization of objects for aesthetic purposes only mostly stands out from the possibilities of affective displacement that the artistic procedure enables.

One day, in a conversation with Simon Fernandes, he began to tell me about the passion of inventor Nikola Tesla for the pigeons who visited his balcony on the roof of a New York hotel in the mid-twentieth century. He told me, more specifically, about the true passion Tesla developed for a particular dove. It is said that, at the time of the death of the little dove, Tesla's helplessness triggered his own death hours later. The point here is not to debate the truthfulness or facts of this story - I bring it up to talk about an intimate relationship that we develop with things, organic or artificial, where we project our consciences. In this movement between usual materiality and current affectivity, to conceive a space where objects derive from both the minimum manipulation of a household part, such as a blanket, as well as latent industrialization, like in plastics, molds and containers, I post two questions: at what moment does interest in objects and speeches that stand out from everyday’s life intertwine in the construction of a spatial narrative? How to conceive an exhibition space from seemingly distant displacements, not positioning them in tensions, or even in a paradoxical relationship, but as harmonic contradictions that allow a new reading of the inaccurate materiality that inhabits what's there?

Although they had not been specifically verbalized to Dandara or Simon, I feel that in a way these questions unconsciously guided the choice of the axis that would guide this exhibition, both expographic and conceptually. Starting from the idea of particles, more specifically from their movements, it was sought to build a space where an affective axis, almost as in a centrifugal movement, would carry out the odd game between fabric, lasers, light, plastic, lead, water and sound that build the dance between the speeches of the artists: in this game, not only the semantics of the materials dictate the rules, but also the relationship between surfaces, their interiors and transparencies, as well as the way it weaves the path of the spectator.

There are several relationships that are constructed, but the emphasis that urges all of them is unique: within the states of usual materiality or current affectivity that intersect here, the only certainty we can have of this space (if we can have any), is about each necessary projection of the gesture in relation to everything around us; to do so, let us not forget the urgent need to re-signify the common, or Tesla's love for his pigeons.

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