simon fernandes >>

Quem tem ouvidos nunca dorme

-
Não é o silêncio que se move
Gravação a laser em acrílico s/ backlight
90x150cm
Backlight com frente de acrílico perfurada
a laser com nuvem de pontos gerada por
programção javascript,a partir de sons
captados nas manifestações de 2013 em São Paulo.
2013-2018
-

-
Não é o silêncio que se move II
Gravação a laser em acrílico s/ backlight
90x150cm
Backlight com frente de acrílico gravada
a laser com nuvem de pontos desenvolvida
com programção javascript,
gerada por processamento de sons
captados nas manifestações de 2013 em São Paulo.
2013-2019
-

-
Vibrátil
Gravação a laser em acrílico - díptico
80x60cm
Nuvem de pontos desenvolvida
com programação em javascript
gerada por processamento de sons
de conversas captadas na
linha vermelha do metrô
de São Paulo.
2018
-

-
Espectro sonoro I
Imagem digital
5000 x 5000px
Nuvem de pontos desenvolvida
com programação em javascript
gerada por processamento de sons
coletados nas manifestações
de 2018, em São Paulo,
2018 - 2021
-

-
Espectro sonoro II
Imagem digital
5000 x 5000px
Nuvem de pontos desenvolvida
com programação em javascript
gerada por processamento de sons
coletados em caminhada em Forataleza,
no dia do resultado das eleições de 2018
2018
-

-
Espectro sonoro III
Imagem digital
5000 x 5000px
Nuvem de pontos desenvolvida
com programação em javascript
gerada por processamento de sons
coletados em caminhada em São Paulo,
no dia 08/08/2020.
Dia no qual o Brasil atingiu 100.000 mortos por covid-19
2020
-

-
Espectro sonoro IV
Imagem digital
5000 x 5000px
Nuvem de pontos desenvolvida
com programação em javascript
gerada por processamento de sons
coletados em abril de 2021 na praça do leões, em Fortaleza.
2021
-

-
Quem tem ouvidos, nunca dorme escuta #1
A geladeira vazia é um cubo branco, ou uma caixa acústica.(?)

blog Pivô

-

Uma geladeira vazia pode ressoar alto e preencher boa parte da paisagem sonora de um ambiente, seu ruído ocupa o espaço de forma sutil e quase silenciosa. É mais uma camada a ser desvelada da massa de informações provenientes da cidade. Gosto de ouví-las, e, vez por outra, de luzes apagadas, faço sessões solitárias de audição do eletrodoméstico. Dessas experiências surgiram notas sobre alguns métodos que encontrei para escutá-las, cada um deles apresenta formas diferentes de estabelecer contato com as obras sonoras da caixa branca.  

1:  

Escuta à distância, onde exploramos os ao redores da geladeira e deixamo-nos levar pela curiosidade da audição. A idéia é procurarmos pequenos territórios sonoros, variações de timbre, volumes e diferentes sons. Circular por seus lados, abaixar-se. Levamos o ouvido à parte de trás de modo a perceber as variações do eco e como o som propaga-se no ambiente.  

2:  

A escuta táctil é um passo à diante em nossa exploração, a proposta é usar o corpo como extensão do aparelho auditivo. De preferência com o dorso nu, encostamos o osso esterno em uma das quinas da geladeira, os braços abertos deitam-se ao longo de suas laterais, reclinamos as mãos abertas sobre a lataria, apoiamos a testa em algum ponto do objeto alinhado com o peito. De olhos fechados, deixamos a vibração extender-se da superfície da geladeira à pele.  

3:  

Como uma sala de concerto, a geladeira foi concebida para oferecer climatização e estrutura acústica. Pomos a cabeça no seu interior, encostamos a porta no pescoço a fim de evitar vazamentos sonoros, percorremos com os olhos a parte interna do objeto. O ar das altitudes é gélido.  
 

>> who has ears, never sleeps - listening # 1 The empty refrigerator is a white cube or a speaker. (?)  

An empty refrigerator can resonate loudly and fill much of the sound landscape of an environment, this noise occupies the space in a subtle and almost silent way. It is another layer to be unveiled from the mass of information coming from the city. I like to listen to them, and sometimes, with the light off, I do solitary listening sessions of eletrodomestics. From these experiences notes about some methods that I found to hear them came up, each of thempresents different ways of establishing contact with the white box sound works.  

1:  

Hearing from a distance, where we explore around the refrigerator and we let ourselves be carried away by the curiosity of hearing. The idea is to look for small sound territories, variations of timbre, volumes and different sounds. Circling by your sides, lower yourself. We bring the ear to the back. so we can see the variations of the echo and how the sound propagates in the environment.  

2:  

Tactile listening is a step forward in our exploration, the proposal is to use the body as an extension of the hearing apparatus. Preferably with the bare back, we place the external bone in one of the sides of the refrigerator, the open arms lie down along its sides, we rest our open hands on the body, we support the forehead in some point of the object aligned with the chest. Eyes closed, we let the vibration spread from the surface of the refrigerator to the skin.  

3:  

As a concert hall, the refrigerator was designed to offer acclimatization and acoustic structure. We place the head in its interior, we leaned the door in the neck in order to avoid sound leaks, we cross with the eyes the inner part of the object. The air in the altitudes is icy.  



-
Quem tem ouvidos, nunca dorme escuta #1
A geladeira vazia é um cubo branco, ou uma caixa acústica.(?)

Instruções para escuta de geladeira

2017
-

Escuta imaginária.
Ventilador de coluna e cama - em Fortaleza-Ce.



1 - Posição:

Mais importante do que escutar, é achar uma posição para a escuta, podemos ouvir enquanto dormimos, porém antes disso devemos encontrar uma posição. A mágica consiste em achar o ponto - neutro - para que a fluência das coisas que já estão aí nos perpasse.

2 - Escultura:

Imaginemos uma cama, como sugere o título do texto, uma cama com um ventilador apontado em nossa direção. o ventilador encontra-se na diagonal direita, tendo em vista que a base é onde ficam os pés. O calor também está, como escultura, como uma película líquida e viscosa, um nylon vivo que se estende por toda superfície do nosso corpo.

3 - Laser:

O ventilador gira, naquele modo clássico de movimento horizontal - dizendo não obsessivamente - scaneando o ambiente, como laser, abrindo buracos no calor e por esses buracos respiramos. O ventilador passa, o tecido sintético de calor recompõem-se e volta novamente. O ventilador é uma sombra, sua coluna de ar tem muito em comum com as sombras dos postes, um abrigo contra a hostilidade da luz.

4 - Diagonais:

Agora sim, estamos prontos para ouvir.

4.1:

A primeira diagonal é a menos interessante, se o caso fosse dormir, essa seria a melhor. diagonal esquerda do lado da cabeceira, os pés ficam próximos ao emissor de vento, o que é ótimo. a cabeça, junto aos ouvidos fica na outra ponta. daqui o som é mais espalhado, esfumaçado e menos expressivo, uma sonoridade de insônia em quarto quente, meio chato.

4.2:

Segunda diagonal, cabeça do lado direito, no sentido da cabeceira, pés na base, do lado esquerdo. interessante como pequenos deslocamentos podem nos levar a lugares totalmente diferentes. é isso que penso, quando tudo tá uma merda. sei lá… Aqui deste lado, o som da coluna de ar emitida pelo ventilador fica mais potente. o vento sobe kundalini do cóccix pra nunca e na nuca abre-se em dois pequenos rios de ar que correm para os canais auriculares, uivam e passam de acordo com o movimento do pescoço, nosso ou do ventilador. A sonoridade é mais interessante, uma sensação de um sintetizador com o cutoff quase todo fechado. um som obtuso, misterioso, saturnino.

4.3:

“O que está em cima é como o que está embaixo. O que está dentro é como o que está fora."

Cá estamos, abaixo do equador. Viramos a cabeça para o lado que chamávamos de base. Estamos no lado esquerdo da cama, o mais distante do ventilador. sentimos a diferença da pressão sonora, a trepidação da força do ar deslocado provocada pela aproximação com a máquina. Essa sem dúvida é a posição mais agradável para o corpo e com uma escuta mais nítida. a da parte superior do tronco é arrefecida, o ar movimenta a plantação de cabelos da nossa cabeça. O volume do som também aumenta, é interessante perceber a diferença de quando a corrente de ar passa por nossos ouvidos, empurrando o tímpano. Um ouvido sofre o impacto do ar, o outro segue quase intacto. concentrar-se na escuta do ouvido mais impactado e do menos impactado é um exercício interessante. Se a cabeça fosse o planeta terra o ventilador seria o sol, o vento seria a luz, um lado do planeta recebe a luminosidade mais intensa, o outro as luzes mais sutis.

4.4:

Um mergulho. agora iremos direto à fonte de vento e ruído, deslocaremos nosso corpo para a lateral da cama, o lado mais próximo do ventilador, e lá esqueceremos de tudo. O som do vórtex, turbina, preenche todos os sentido, de tão forte chega até ser difícil manter os olhos abertos, a coluna de ar escorrega do topo da cabeça, passa pelos ombros e costas, como uma cachoeira domiciliar e sem água. uma escuta total, potente, milagrosa, sem a pompa dos espetáculos, a verdadeira sonoridade 5D. Mover a cabeça em círculos explorando o diâmetro da coluna de ar criar efeitos múltiplos, ouvimos o som do tempo, de uma viagem de carro, Lembranças de uma encarnação passada na qual éramos caninos. abrimos a boca e emitimos pequenos sons guturais e sentimos o efeito do cancelamentos da ondas sonoras que emitimos, o som em fatias. Ao deslocar os ouvidos do centro da ação, e encostar a cabeça no colchão, entramos em um modo pacífico após a catarse, talvez agora seja possível dormir.